terça-feira, 28 de junho de 2011

Gaveta 22 - Alma Encantada com o Bater de Asas das Borboletas Amarelas



E quando todas as gavetas estão abertas e escancaradas...?!


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso." (*)



Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.

(imagem criada por Tatiana Paiva)  
(texto do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética")  


(*) "Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.    

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Joseph Campbell - Uma verdadeira Alma Encantada com o Bater de Asas das Borboletas Amarelas

Esta semana, estou sentindo uma forte ausência, e ao mesmo tempo realizando o resgate dos conhecimentos que apreendi no periodo que passei próxima ao grande encenador Antunes Filho. E devido a varias circunstâncias, senti a necessidade de resgatar aqui, este trecho do livro "O Poder do Mito", no qual Campbell narra uma lenda sobre o Deus Indra, divirtam-se: 

Deus Indra - O Deus da chuva e dos trovões

"Eu digo que a coisa suprema, seja o que for, está além das categorias de ser e não ser. Ela é ou não é? Como disse o Buda, segundo testemunhas: “É e não é ao mesmo tempo; nem é nem deixa de ser”. Deus, como supremo mistério do ser, está além do pensamento.
Há uma história belíssima, num dos Upanixades, sobre o deus Indra. Aconteceu, numa certa época, que um monstro gigantesco engoliu toda a água da terra, de modo que houve uma terrível seca e o mundo se viu em péssimas condições. Indra levou algum tempo até se dar conta de que possuía uma caixa repleta de raios e tudo o que tinha a fazer era lançar um deles sobre o monstro, fazendo o explodir. Quando ele fez isso, as águas jorraram e o
mundo se refrescou. E Indra disse: “Que sujeito formidável eu sou!”
 
Assim, pensando no sujeito formidável que era, Indra se dirige à montanha cósmica, que é a montanha do centro do mundo, e decide construir um palácio à altura do seu valor. O melhor carpinteiro dos deuses põe se a trabalhar e rapidamente o palácio está erguido e em excelentes condições. Mas cada vez que vai inspecioná-lo, Indra tem idéias mais ambiciosas a respeito de quão esplêndido e grandioso o palácio deveria ser. Por fim o carpinteiro exclama: “Meu Deus, ambos somos imortais, e não há limites para os desejos dele. Estou preso por toda a eternidade”. Então decide dirigir se a Brahma, o deus criador, para reclamar.
 
Brahma está sentado num lótus, o símbolo da divina energia e da divina graça. O lótus cresce do umbigo de Vishnu, o deus adormecido, cujo sonho é o universo. Assim, o carpinteiro se aproxima da borda da grande lagoa de lótus do universo e conta sua história a Brahma. Brahma diz: “Pode ir para casa. Eu vou dar um jeito nisso”. Brahma deixa seu lótus e se ajoelha para se dirigir ao adormecido Vishnu. Vishnu apenas esboça um gesto e diz qualquer coisa como: “Ouça, fuja, alguma coisa vai acontecer”.
 
Na manhã seguinte, no portal do palácio que estava sendo construído, aparece um belo garoto negro azulado, com um bando de crianças ao seu redor, admirando o esplendor da construção. O porteiro, que estava na entrada do novo palácio, corre até Indra e este diz: “Bem, mande entrar o garoto”. O garoto é levado até Indra, e o deus rei, sentado em seu trono, diz: “Seja bem vindo, jovem. O que o traz ao meu palácio?”
“Bem”, diz o garoto com uma voz que soa como um trovão rolando no horizonte, “ouvi dizer que você está construindo um palácio como nenhum Indra antes de você jamais construiu”.
E Indra diz: “Indras antes de mim... de que você está falando?”
O garoto diz: “Indras antes de você. Eu os tenho visto vir e desaparecer, vir e desaparecer. Pense nisso, Vishnu dorme no oceano cósmico, e o lótus do universo cresce do seu umbigo. No lótus se assenta Brahma, o criador. Brahma abre os olhos e um mundo se cria, governado por um Indra. Brahma fecha os olhos e um mundo desaparece. A vida de um Brahma conta quatrocentos e trinta e dois mil anos. Quando ele morre, o lótus se desfaz e outro lótus se forma, e outro Brahma. Agora pense nas galáxias para além das galáxias, no
espaço infinito, cada qual com um lótus, com um Brahma sentado nele, abrindo os olhos, fechando os olhos. E Indras? Deve haver homens avisados em sua corte, que se prestariam a contar as gotas de água dos oceanos ou os grãos de areia nas praias, mas nenhum contaria aqueles Brahmas, muito menos aqueles Indras”.
Enquanto o garoto fala, um exército de formigas desfila pelo chão. O garoto ri, ao vê Ias; os cabelos de Indra ficam arrepiados, e ele pergunta ao garoto: “Por que você ri?”
O garoto responde: “Não pergunte, a menos que você queira ficar magoado”.
Indra diz: “Eu pergunto. Ensine me”. (Esta, aliás, é uma bela idéia oriental: não ensine, até ser instado a isso. Você não deve impor seu conhecimento goela abaixo das pessoas.)
Então o garoto aponta para as formigas e diz: “Todas antigos Indras. Através de muitas vidas, eles se elevam das mais baixas condições à mais alta iluminação. Aí eles lançam um raio sobre um monstro e pensam: ‘Que sujeito formidável eu sou!’ E voltam a despencar”.
Enquanto o garoto fala, um velho iogue extravagante adentra o palácio, com uma folha de bananeira servindo de pára sol. Ele veste apenas uma tanga, e tem no peito um chumaço de cabelos formando um disco, no centro do qual metade dos pêlos foram arrancados.
O garoto o saúda e pergunta lhe exatamente o que Indra ia perguntar: “Bom velho, qual é o seu nome? De onde você vem? Onde está sua família? Onde está sua casa? E qual é o significado dessa curiosa constelação de cabelos em seu peito?”
“Bem”, diz o velho, “meu nome é Cabeludo . Eu não tenho casa. A vida é muito curta para isso. Só tenho este pára sol. Não tenho família. Apenas medito nos pés de Vishnu e penso na eternidade, e em quão fugaz é o tempo. Você sabe, toda vez que morre um Indra, um mundo desaparece coisas assim somem como uma faísca. Cada vez que morre um Indra, cai um fio de cabelo deste círculo no meu peito. Até agora, metade dos cabelos já se foram.
Muito breve, todos terão ido. A vida é curta. Por que construir uma casa?”
Então os dois desaparecem. O garoto era Vishnu, o Senhor Protetor, e o velho iogue era Shiva, o criador e destruidor do mundo, que tinha vindo exatamente para a instrução de Indra, que é simplesmente um deus da história mas pensa que é o espetáculo todo.
Indra continua sentado no trono, completamente desiludido, completamente abatido. Aí chama o carpinteiro e diz: “Estou suspendendo a construção deste palácio. Você está dispensado”. Assim o carpinteiro conseguiu seu intento. É dispensado do trabalho e não há mais nenhuma casa para construir.
Indra decide sair e tornar se um iogue, para apenas meditar nos pés de lótus de Vishnu. Mas ele tem uma bela rainha chamada Indrani. E quando Indrani ouve falar do plano de Indra, dirige se ao sacerdote dos deuses e diz: “Agora ele pôs na cabeça essa idéia de largar tudo para se tornar um iogue”.
“Bem”, diz o sacerdote, “venha comigo, minha senhora, sente se aqui ao meu lado e eu darei um jeito nisso.”
 
Então eles se sentam diante do trono do rei e o sacerdote diz: “Pois bem, eu escrevi um livro para você, muitos anos atrás, sobre a arte da política. Você ocupa a posição de rei dos deuses. Você é a manifestação do mistério de Brahma na esfera do tempo. Isso é um alto privilégio. Saiba apreciá-lo, honrá-lo, e lide com a vida como se você fosse quem realmente é. Além disso, vou agora escrever um livro sobre a arte do amor, assim você e sua esposa
saberão que, no maravilhoso mistério dos dois que são um, Brahma também está radiantemente presente”.
 
E, com essas instruções, Indra desiste da idéia de largar tudo para se tornar um iogue, e descobre que, na vida, ele pode representar o eterno como um símbolo, pode se dizer, de Brahma.
Assim, cada um de nós é, de certo modo, o Indra de sua própria vida. Você pode escolher, ou se livrar de tudo e se isolar na floresta para meditar, ou permanecer no mundo, tanto na vida de sua tarefa, que é a régia tarefa da política e da realização, quanto na vida do amor por sua mulher e sua família. 

Bem, este é um mito muito atraente, assim me parece."


sábado, 25 de junho de 2011

A lista de livros indicados por Antunes Filho para os participantes do Centro de Pesquisa Teatral - Sesc Consolação - SP.

Antunes Filho diretor do Grupo Macunaima

Dicas de leitura:

- PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE FILOSOFIA
Georges Politzer Gui Besse Coleção Ciências Sociais e filosofiaeditora Hemus, 1995 - 398 páginas [leitura recomendada até a pág. 106]
- YIN & YANGA Harmonia Taoísta dos Opostos
J.C. Cooper Editora Martins Fontes, 1999 - 175 páginas
- O TAO DA FÍSICA
Fritjof  Capra Editora Cultrix, 2000 - 274 páginas
- TAO: O CURSO DO RIO Significado e a Sabedoria do taoísmo
Alan Wilson Watts Editora Pensamento, 1995 - 174 páginas
- MITO E REALIDADE
Mircea Elia de Coleção Debates nº 52 Editora Perspectiva, 2002 - 182 páginas
- A PSICOLOGIA DE JUNG E O BUDISMO TIBETANO Caminhos Ocidentais e Orientais para o Coração
Radmila Moacanin Editora Cultrix, 1995 - 152 páginas
- INTRODUÇÃO À RETÓRICA Oliver Reboul Coleção Justiça e direitoeditora Martins Fontes, 2004 - 275 páginas
- PÓS-MODERNISMO NÃO É O QUE VOCÊ PENSA
Charles C. Lemert Editora Loyola, 2000 - 200 páginas
- COMPREENDER KANT
Georges Pascal Coleção Compreender Editora Vozes, 2005 - 192 páginas
- O PENSAMENTO VIVO DE SCHOPENHAUER
apresentado por Thomas Mann Coleção Biblioteca do Pensamento Vivo Editora Livraria Martins, 1956 - 180 páginas
- NIETZSCHE E A VERDADE Roberto Machado Editora Graal, 1999116 páginas
- A CULTURA POPULAR NA IDADE MÉDIAE NO RENASCIMENTO Contexto de François Rabelais
Mikhail Bakhtin Editora Annablume, 2002 - 420 páginas
- FREUD BÁSICO Pensamentos Psicanalíticos para o Século XXI Michael Kahn Editora Civilização Brasileira, 2003 - 240 páginas Livros Complementares
- MINHA VIDA NA ARTE
Konstantin S. Stanislavsky Editora Bertrand Brasil, 1989 - 539 páginas
- A PREPARAÇÃO DO ATOR
Konstantin S. Stanislavsky Editora Civilização Brasileira, 1999- 370 páginas
- A CRIAÇÃO DE UM PAPEL
Konstantin S. Stanislavsky Editora Civilização Brasileira, 1999 - 320 páginas.
- A CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM
Konstantin S. Stanislavsky Editora Civilização Brasileira, 2001 - 400 páginas
- UM SONHO DE PAIXÃO
Lee Strasberg Editora Civilização Brasileira, 1990 - 239 páginas
- PARA O ATOR
 Michael Checov Editora Martins Fontes, 2003 - 224 páginas
- PARADOXO SOBRE O COMEDIANTE
Denis Diderot Coleção Pequena Biblioteca Editora Guimarães Editores, 2000[edição portuguesa]
- ESTUDOS SOBRE TEATRO Bertolt Brecht Editora Nova Fronteira, 2005  - 256 páginas
- PARA TRÁS E PARA FRENTE Um Guia para Leitura de Peças teatrais
David Mark Ball Coleção Debates nº 278 Editora Perspectiva, 1999 - 136 páginas
- A EXPERIÊNCIA VIVA DO TEATRO
Eric Bentley Jorge Zahar Editor, 1967
- MANUAL DE RETÓRICA
Armando Plebe e Pietro Emanuele Coleção Ensino Superior Editora Martins Fontes, 1992 - 204 páginas
- ALÉM DO PRINCÍPIO DE PRAZER Psicologia em grupo e outros trabalhos
Sigmund Freud Coleção Sigmund Freud nº 18 Editora Imago, 2006 - 317 páginas
- OS CHISTES E SUA RELAÇÃO COM O INCONSCIENTE –
Sigmund Freud coleção Sigmund Freud nº 08 Editora Imago, 2006 - 247 páginas
- JUNG – VIDA E OBRA
Nise Silveira Editora Paz e Terra, 2001 - 200 páginas
- OS PARCEIROS INVISÍVEIS - O Masculino e o Feminino Dentro de Cada de Nós John A. Sanford Coleção Amor e Psique
Paulus Editora, 1987 - 170 páginas
- PSICOLOGIA arquetípica
James Hillman editora Cultrix, 1992128 páginas
- INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO
Daisetz Teitaro Suzuki Editora Pensamento, 2003 - 160 páginas
- A ARTE CAVALHEIRESCA DO ARQUEIRO ZEN
Eugen Herrigel Editora Pensamento, 1997 - 96 páginas
- INTRODUÇÃO À VISÃO HOLÍSTICA Breve Relato de Viagem do Velho ao Novo Paradigma
Roberto Crema Coleção Comportamento, Corpo, Movimento Editora Summus, 1989 - 136 páginas
- O PARADIGMA HOLOGRÁFICO E OUTROS PARADOXOS
Ken Wilber Editora Cultrix, 1994 - 280 páginas
- A CORAGEM DE CRIAR
Rollo May Editora Nova Fronteira, 2000 - 144 páginas
- HOMO LUDENSO jogo como Elemento da Cultura
Johan Huizinga Coleção Estudos nº4 Editora Perspectiva, 2001 - 244 páginas
- A TOTALIDADE E A ORDEM IMPLICADA Uma nova Percepção da Realidade
David Bohm Editora Cultrix, 1992 - 292 páginas
-  FUNDAMENTOS DO MISTICISMO TIBETANO
Lama Anagarika Govinda Editora Pensamento, 1990- 320 páginas
- A MARÉ DA VIDA [Nova Biologia]
Lyan Watson
- TRATADO DA EFICÁCIA
François Jullien Coleção transeditora 34, 1998 - 40 páginas
- A DESORDEM: ELOGIO DO MOVIMENTO
George Balandier Editora Bertrand Brasil, 1997 - 266 páginas
- A POÉTICA DO DEVANEIO
Gaston Bachelard Editora Martins Fontes, 2006 - 216 páginas
- A POÉTICA DO ESPAÇO
Gaston Bachelard Editora Martins Fontes, 2000 - 242 páginas
- INTRODUÇÃO ÀS GRANDES TEORIAS DO TEATRO
Jean-Jacques Roubine Jorge Zahar Editor, 2003 - 228 páginas
- LINGUAGEM DA ENCENAÇÃO TEATRAL
Jean-Jacques Roubine Jorge Zahar Editor, 1998 - 240 páginas
- O SIMBOLISMO
Anna Balaian Coleção Stylus nº5 Editora Perspectiva, 2000 - 148 páginas
- O TEATRO DAS DÉCADAS DE OITENTA E NOVENTA
C. Bernd Sucher Fundação Calouste Gulbenkian, 1999 - 459 páginas [edição portuguesa]
-  O GROTESCO Configuração na Pintura e na Literatura
Wolfgang Kayser Editora Perspectiva, 2003 - 162 páginas
- A ESCOLA DE FRANKFURT Luzes e Sombras do Iluminismo
Olgária C. F. Matos Coleção LOGOS Editora Moderna, 2006 - 112 páginas
- A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO Comentários sobre a Sociedade do Espetáculo Guy Debord Editora Contraponto, 1997 - 240 páginas
- NIETZSCHE: A TRANSVALORAÇÃO DOS VALORES
Scarlett Marton Editora Moderna, 2006 - 96 páginas
- MIL PLATÔS [volume 1] Capitalismo e Esquizofrenia
Gilles Deleuze e Félix Guattari Coleção Trans Editora 34, 1995 - 96 páginas
- OBRA ABERTA
Umberto Eco Coleção Debates nº4 Editora Perspectiva, 2001 - 284 páginas
 - MODERNIDADE LÍQUIDA
Zygmunt Bauman Jorge Zahar Editor, 2001 - 260 páginas
- MICROFÍSICA DO PODER
Michel Foucault Editora Graal , 2007 - 295 páginas
- GRUPO MACUNAÍMA Carnavalização e Mito
David George Coleção Debates nº 230 Editora Perspectiva, 1990 - 153 páginas

Boa leitura!