terça-feira, 27 de dezembro de 2011

CADERNOS DA MEMÓRIA - ENTREVISTA STIVAL FORTI ou ZÉ CÔCO

Imagem do Jornal de Limeira
Stival Forti
Artista plástico, Músico e Luthier
por Jacqueline Durans


Numa tarde junina e fria de sábado, às 17h30 sou recebida por sua dedicada e gentil esposa Virma, que me encaminha até a sala onde sou aguardada pelo artista. As paredes da casa sustentam várias de suas belas obras. Sobre o sofá vários de seus instrumentos musicais repousam aguardando seu toque. 
Stival Forti ou o Zé Côco como os amigos carinhosamente o chamam, é um homem arguto, sagaz e inquieto, naturalmente dono de uma sabedoria e cultura refinada, capaz de discorrer sobre os diversos seguimentos da arte, e citar Saramago.
Antes de começarmos esta entrevista, meus anfitriões me recebem com um delicioso breakfast, composto por um delicioso bolo de laranja, que ele mesmo (Stival) assou naquela tarde. Sempre que sinto perfume de bolo de laranja, me lembro do primeiro dia que cheguei a Limeira, e minha alma se aquece.    


JD - Qual a formação do Sr.?
Stival - Cursei a Escola Técnica Getúlio Vargas, mas o estudo formal não deu muito certo para mim. Eu era tímido demais, recém chegado da roça. Um dia durante a aula, o professor de modo exaltado me disse: - Eh, menino! Você está fazendo o desenho com a folha de ponta cabeça?  E então toda classe caiu no riso, desde aquele dia eu fui embora e nunca mais voltei. 


JD - Quando foi que descobriu seu talento para o desenho, e para a pintura?
Stival - Ah, desde menino. Minha família era muito simples, meu pai trabalhava na roça e eu o acompanhava. Enquanto realizava suas tarefas, eu ficava horas desenhando com uma varinha no chão de terra. Mais tarde, um amigo - Luis Bianchini - me deu as primeiras bisnagas de tinta, na época eu pintava paisagens, estampas compradas na casa Michelangelo em São Paulo, e desde então nunca parei.


JD - O Senhor se lembra do momento em que decidiu que seria um artista profissional?
Stival - Certa vez, fui levado a Pinacoteca do Estado de São Paulo pelo Francisco Bocanhe, fiquei deslumbrado com o que vi, as pinturas, esculturas de nossos artistas do período entre século XVI até o XX, que não ficam a dever nada para o cenário mundial das artes. Creio que foi naquele momento que decidi realmente ser artista.


JD - O Senhor consegue identificar algum artista brasileiro que tenha influenciado, seu trabalho? 
Stival - Não diria que me influenciou, mas sou um admirador confesso do Almeida Junior - ele também se lembra e reconhece o talento do amigo e artista talentoso Fabio Jacon, morto precocemente.- 


JD - E os artistas internacionais, existe algum que o marcou de modo definitivo?
Stival - Rembrandt, sem duvida alguma. Me emociono com sua obra e sua vida.


JD - E a musica, como começou a envolvimento do Senhor com ela?
Stival - Eu digo sempre, que não consigo conversar sem o meu violão, quanto mais imaginar um mundo sem música. Minha maior influencia foi meu irmão Antonio Forti, que junto com seu parceiro formavam uma dupla caipira. As vezes, ele deixava seu violão em algum canto e lá ia eu brincar de fazer musica. Em São José do Rio Preto, cidade em que vivi parte da minha adolescência, havia uma loja de instrumentos musicais, onde violões eram expostos pendurados no teto, quantas vezes fiquei ali, olhando aqueles instrumentos, sonhando um dia também possuir o meu violão, e me sentia triste pois eu achava que nunca conseguiria comprar um. 
Hoje até me assusto tropeçando pela casa nos violões, violas, cavaquinhos que possuo (risos).


JD - O Senhor já fez parte de algum grupo musical? 
Stival - No auge da Jovem Guarda, eu e alguns amigos montamos uma banda de Rock-in-Roll, a The Bats, e com ela chegamos realizar vários shows tocando musicas dos Rolling Stones. Houve uma oportunidade em que o Geraldo Alves, nos pediu para abrirmos em Araras um show do Roberto Carlos - que já era o Rei na época - e foi um acontecimento bem bacana para todos nós.

JD - Quando e porque o Senhor decidiu construir seus próprios instrumentos?


Violão Stival Forti
Stival - Por necessidade pura e simples. Como eu não possuía condições de comprar meu próprio violão, comecei a frequentar na rua Aurora em São Paulo, a Fabrica Del Vechio. Lá o Turilo e o Chico, sempre me deixavam observar a produção dos instrumentos e foi assim, através de muito estudo, observação e pratica que aprendi o oficio da Lutheria. Agora me espanto muito, quando alguém quer saber fazer um violão em um mês, eu levei trinta anos para aprender.


JD - Como é viver como trabalhador da arte?
Stival - Cada dia um dia, minha arte me deu prêmios, me levou a muitos lugares do Brasil e no exterior, através dela também conquistei parceiros e amigos como o marchand Eduardo Correa Neto.


JD - O Senhor tem algum conselho para o jovem que deseja seguir o caminho da arte?
Stival - Esforço; empenho e muito estudo e trabalho.


JD - Uma lição de vida?
Stival - Que todo tipo de fanatismo, empata a vida do homem. 


JUN2009




Obs.: esta matéria possui registros fotográficos do artista e sua obra, que neste momento estou sem acesso, mas prometo assim que possível ilustrá-la com alguns dos trabalhos deste grande pintor moderno, e também fotografo talentoso que tive a oportunidade de expor suas pinturas na Mostra de Artes Visuais - O Moderno e o Contemporâneo e também suas fotos no Grafias da Luz, projetos que desenvolvia na Oficina Cultural Regional Carlos Gomes - Palacete Levy - Limeira - SP, Brasil.


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